Estudando com pessoas do mundo inteiro nos Estados Unidos

setembro 07, 2023
Escola de Treinamento Cultural Care em Tarrytown, New York. Fevereiro, 2020.

Eu tive a real sensação de estar dentro de um filme quando desci do ônibus e caminhei para a entrada da escola que ficaríamos por uma semana antes de iniciar o programa de AuPair. Os prédios eram grandes e com uma arquitetura totalmente diferente do que eu estava acostumada, as cores eram mais foscas e as árvores não tinham folhas, apenas um marrom vibrante que se escondia no meio da névoa causada pelo frio. Percebi que o frio estava mais intenso. Me lembrei que precisaria de roupas adequadas para o inverno e para a neve... Ah! Como eu estava ansiosa para ver neve pela primeira vez! Caminhamos juntas para a sala de entrada e pela primeira vez eu me apresentei em inglês. E foi um fracasso. Eu quase não soube como responder o meu próprio nome. Fiquei decepcionada por um instante, mas eu sabia que um dos motivos da minha viagem era o aprendizado do inglês e eu me empolguei com a ideia de falar inglês novamente. Andamos até um corredor que parecia não ter fim e então, o momento mais esperado da escola de treinamento; conheci a minha roommate, ou melhor, colega de quarto. Fiquei muito animada por dividir essa experiência com alguém de outro país, e pensei que aquela pessoa até então desconhecida, estaria para sempre na minha memória como uma lembrança boa de um dos momentos mais especiais da minha vida. E esse era um pensamento quase que constante: a ideia de criar novas memórias e conhecer novas pessoas todos os dias me fazia sorrir sem querer. Eu estava fascinada com a ideia de viver novas aventuras, conhecer novas pessoas e ser livre para criar uma nova versão de mim. Começamos as aulas e tudo era incrivelmente interessante. Nunca estive tão atenta em minha vida. Eu ouvia cada palavra com atenção e tentava repetí-las em minha mente para que o meu vocabulário em inglês se expandisse. Me perdia entre um pensamento ou outro com lembranças de casa e saudade de quem sempre esteve ao meu lado. Como eu queria que meus pais estivessem ali comigo, mas eu sabia que todo esse esforço e distância valeria a pena. Acabaram as aulas e fomos até o refeitório que era mais uma cena típica de filme americano. Eu fotografava tudo com o entusiasmo de uma criança de seis anos. Parecia um sonho e eu tinha a sensação de que seria acordada a qualquer momento. Os primeiros dias na escola de treinamento foram como um sonho em que você acorda e quase não se lembra do que aconteceu, justamente porque estava sonhando. Fiz muitas amizades, conheci pessoas do mundo inteiro. Fracassei no inglês inúmeras vezes, mas a cada vez eu tentava aprender algo novo e pensar que esse era o objetivo maior, ou até então era o que eu acreditava. O fato de estar totalmente imersa no idioma me fazia ter dores de cabeça, mas até as dores de cabeça me faziam feliz naquele momento. Nada poderia me desanimar. O que eu não esperava, era que em algumas semanas toda a minha vida iria mudar. Não só a minha vida, mas a vida do mundo todo...

Voltei, desta vez com a intenção de ficar um pouco mais

agosto 31, 2023

Este blog surgiu em um dos momentos mais sensíveis da minha vida e não é à toa que sempre que eu me sinto sufocada eu me vejo aqui, pronta para me libertar. Volto aqui para me lembrar de que tudo ficará bem. Que tudo vai passar. Só que desta vez, os sentimentos mudaram. Estou aqui, pronta para compartilhar que tudo ficou bem, que tudo passou e que eu estou pronta para escrever mais um capítulo da minha vida. 

Nos últimos dias eu tenho percebido que muitas coisas mudaram internamente em mim. Depois de alguns meses aprendendo a cuidar de mim, eu consegui enxergar que o amor maior deve vir de dentro. De dentro de nós. Consegui finalmente enxergar que se eu não me amar, ninguém o fará por mim. Aprendi que me amar e me valorizar é a chave para que tudo fique bem, por dentro e por fora. Enquanto me preocupava com os outros, esqueci de me preocupar comigo. Enquanto amava o outro, esqueci de me amar. Uma longa jornada de aprendizados me fez enxergar que eu tenho o amor e a coragem que eu sempre busquei em outras pessoas.

Você está onde você quer estar? Por muito tempo eu busquei o meu lugar no mundo e precisei viajar milhares de quilomêtros para finalmente entender que "a nossa mente é o nosso lar". Tatuei essa frase alguns meses atrás, porque apesar de ser uma das minhas músicas favoritas; também me fez refletir que não importa em qual lugar do mundo a gente se encontre, se você não estiver bem, nada vai te fazer feliz. E a mesma frase que eu cantei inúmeras vezes sem perceber, me abriu os olhos para um amor que eu havia esquecido... O amor próprio. Eu estou exatamente onde eu gostaria de estar. E não me refiro ao país. Me refiro ao momento da minha vida em que os meus sonhos me completaram de uma forma que eu jamais imaginei. O momento da minha vida em que eu aprendi a amar o presente. Aprendi que cada fase da vida é única e que devemos aproveitar ao máximo cada uma delas. 

E não é somente sobre estar, mas sobre ser. É sobre ser quem você é, sem medo do que a vida vai dizer. É sim sobre ter sonhos, mas também é sobre ser corajoso o suficiente para ir em busca de todos eles. Voltei, desta vez com a intenção de ficar um pouco mais. De abrir mais algumas "gavetas" e escrever sobre tudo que vêm me fazendo mais feliz e mais completa ultimamente. E eu tenho tanto para dizer, ou melhor; escrever. Estou pronta para os próximos capítulos. 

Não há nada que você não possa fazer, você está em New York

Diário de Intercâmbio agosto 07, 2022
Primeira foto no Central Park em New York City. Fevereiro, 2020.
Olhei pela janela do avião e por um segundo eu senti que o meu coração iria sair pela boca. Após quase onze horas sentada naquela poltrona eu já não conseguia sentir os meus pés. Eu ri, pensando na possibilidade de sair andando pelos corredores do avião. Alguém disse "consigo ver a estátua da liberdade daqui" e todas nós olhamos atentas procurando o tão famoso marco da cidade que nunca dorme. Eram quase onze da manhã e eu precisava de um café. Faltava pouco para sairmos do avião e eu estava ansiosa por tudo que estaria para acontecer. Pousamos e começamos a andar lentamente para fora, quando eu senti um frio que eu nunca havia sentido antes. Era fevereiro. No Brasil, eu vestia shorts e chinelo. Percebi que eu precisaria de luvas e toucas. Vesti o casaco e o cachecól. Eu já me sentia dentro de um filme. Andando pelos corredores do aeroporto eu ouvi pela primeira vez mais de dez pessoas falando inglês ao mesmo tempo e foi então que a minha ficha caiu... Eu estava nos Estados Unidos. Andamos até a Imigração e o meu coração foi ficando apertado outra vez. Uma garota de sorriso largo me olhou e disse que tudo iria ficar bem. Ouvimos pessoas falando sobre uma tal gripe que estava sendo descoberta na China. Um rapaz andou até a nossa fileira e disse que se possível, teríamos que vestir uma máscara para a nossa proteção. Algumas meninas riram e eu pensei que tudo aquilo era muito estranho e extremo, mas vestimos a tal máscara. Andei até a imigração e após conferir todos os meus documentos, a mulher séria me perguntou se eu havia visitado a China nos últimos meses. Eu disse que não. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo. E não fazia ideia do que iria acontecer nos próximos meses. Sorri e disse o obrigada mais aliviado da minha vida. Eu estava finalmente nos Estados Unidos. Todas as meninas estavam tão felizes e eu me lembro de pensar no quanto aquele momento era o início de tudo. Tantas histórias seriam construídas a partir daquele momento. Enviei algumas fotos para a minha família e disse que estava tudo bem e que estava muito frio. O frio era a única coisa que me incomodava naquele momento, mas eu estava animada demais para reclamar. Andamos até a saída do aeroporto e tudo era tão diferente. Eu não conseguia parar de ouvir as pessoas ao meu redor conversando em inglês e mesmo sem entender quase nada, eu achava muito incrível a ideia de estar totalmente inserida em um outro idioma. Nosso ônibus chegou e então, todas nós embarcamos para a nossa primeira aventura nos Estados Unidos: A Escola de Treinamento. Passaríamos uma semana estudando os cuidados básicos da infância e primeiros socorros, além de vivermos uma imersão cultural e linguística com pessoas do mundo inteiro. Eu nunca havia conhecido alguém de outro país. Conheci dois missionários americanos enquanto fazia parte da Igreja Mórmon, mas nada igual a experiência de passar uma semana com pessoas do mundo inteiro. Anotei algumas palavras no meu celular que me serviriam de inspiração para novos textos no futuro e olhando pela janela outra vez, eu admirava a cidade que eu sempre sonhei em conhecer...

Saindo de casa com as malas e o coração nas mãos

Diário de Intercâmbio agosto 04, 2022
A primeira viagem de avião é inesquecível! Foto feita por mim. Fevereiro, 2020. 
Cheguei ao aeroporto com as malas e o coração nas mãos. Era a minha primeira vez em um aeroporto. Seria a primeira vez em um avião. Segurei firme o passaporte enquanto esperava para despachar horas de esforço e organização e por um segundo eu pensei que toda a minha vida estava ali, resumida em duas malas. Todos os objetos de decoração, coleções de canecas e bonecas, cadernos e livros ficavam para trás, junto com uma história de que eu me orgulhava muito. Lágrimas escorreram enquanto todos esses pensamentos dançavam em minha mente. Meus pais me olhavam já com um ar de saudade. Meu irmão sorria e continuava me motivando com as histórias de pessoas que haviam se aventurado fora do país. Eu não conseguia acreditar que em algumas horas, eu seria uma dessas pessoas. Um novo capítulo da minha jornada começava ali, mas eu estava com muito medo do que estava por vir. Será que eu vou me adaptar? Será que eu vou sentir saudade de casa? Será que eu vou gostar da comida? Todas essas questões me faziam refletir, mas de uma coisa eu tinha certeza: Era ali que eu queria estar. Era ali que eu iniciava a realização de um sonho. Era ali que eu tinha certeza de que eu teria que ser forte e corajosa. Era ali que eu começava uma nova vida. Ouvi algumas pessoas chegando, muitas meninas se preparando para embarcar na mesma aventura. E eu me perguntava quais eram as sensações e pensamentos que elas estavam vivenciando ali, naquele momento. Me lembro de ouvir inúmeras meninas dizendo que aquele era um dia muito especial e que aquele momento seria inesquecível. Me apaguei ao fato de que eu não estava sozinha, por mais que o meu bem mais precioso não passaria da porta de embarque comigo. O fato de estar sozinha me assombrava, mas eu tentava me distrair imaginando todas as aventuras que estavam por vir. Eu me imaginei na Times Square, me imaginei na Disney e em Miami, lugares que eram sonhos de uma vida toda. Eu não acreditava que o sonho estava tão perto de se realizar. Minha mãe me abraçou, disse que tudo ficaria bem e que eu seria feliz. Meu pai sorriu com um olhar de orgulho que eu nunca tinha presenciado antes. E a hora de ir finalmente chegou. Ao mesmo tempo em que eu estava muito animada para embarcar, eu só queria mais alguns minutos naquele abraço que eu não sabia ao certo quando sentiria outra vez. Eu queria chorar, mas também queria sorrir. Foi um misto de sentimentos que eu nunca senti antes. Eu tinha certeza, mas ao mesmo tempo muitas dúvidas. Eu sentia medo, mas ao mesmo tempo muita coragem. E neste misto de emoções eu disse o até logo mais doloroso da minha vida. E quando eu percebi, eu estava ali, sozinha, embarcando para um país desconhecido, com um idioma que até então, eu não sabia. Tudo seria diferente daquele momento em diante. Era o início do primeiro capítulo da minha vida fora do Brasil. Era o primeiro capítulo da minha vida nos Estados Unidos.

A história da minha vida

Compartilhar experiências agosto 02, 2022
Centennial Park em Nashville, Tennesse. Março, 2022.

Motivada por reencontrar uma parte de mim que se perdeu com o passar do tempo, abro o meu coração e o meu espaço na internet outra vez para escrever sobre a história da minha vida. Abri os meus sentimentos para o mundo pela primeira vez há dez anos atrás, buscando etenizar em palavras tudo que já não cabia mais dentro de mim. A escrita me permitiu viver experiências que eu jamais imaginei, como participar de eventos literários importantes, conversar e inspirar centenas de jovens e conhecer uma das minhas autoras brasileiras favoritas.
No entanto, não estou de volta para escrever sobre como tudo isso mudou a minha vida, mas para me lembrar de quem eu sou, quem eu me tornei e quem eu desejo ser. A história da minha vida não é simples, em vinte e seis anos eu já vivi o suficiente para uma vida inteira. O suficiente para escrever o livro da minha vida e inspirar todos aqueles que são tão sonhadores quanto eu.
Uma das lições mais valiosas que eu aprendi na vida é que não basta apenas sonhar, temos que usar todas as nossas forças em busca da realização destes sonhos, e é cansativo. É frustrante. Acabamos nos deixando levar por uma rotina fácil e agradável com medo de que um dia tenhamos que sair da zona de conforto. E é assustador ter que começar tudo outra vez; porém, é gratificante olhar para trás e enxergar todos os obstáculos que já enfrentamos buscando a felicidade e a realização de sonhos que pareciam extremamente loucos, mas no final você percebe que eles foram reais e que a sua vida teve mais sentido depois que você os realizou. E é como eu sempre digo: A maior aventura da vida é viver. Viver o melhor que você conseguir, todos os dias.
Eu só percebi que poderia escrever a minha própria história dez anos atrás, quando eu iniciei uma página na internet e escrevi abertamente sobre quem eu era, quem eu queria ser e tudo que me tornava especial. Escrevendo aqui na internet, eu percebi que era capaz de qualquer coisa. E chegou a hora de encontrar esse sentimento outra vez. Chegou a hora de abrir as gavetas e recomeçar. Contar tudo que aconteceu até aqui. Todos os sentimentos, aventuras, decepções, erros e aprendizados. Todas as conquistas. Chegou a hora de abrir o meu coração outra vez e deixar que as palavras me inspirem na criação do próximo capítulo da minha vida.